Os Farroupilhas e os Farrapos
Por Jéferson Pimentel
O Brazil só nos ensina um lado o do levante!
Muitas pessoas acham que Farroupilhas e Farrapos são sinônimos, criados ao acaso ou por lados opostos da revolta. A verdade é que existem muitas diferenças entre Farroupilhas e Farrapos, em suma são dois eventos completamente diferentes.
Os Farroupilhas:
A corte do Império brasileiro denominava Farroupilha e todo e qualquer revoltoso que se levantasse contra o Império era denominado como tal. Sendo que existiam Farroupilhas por todo o território brasileiro, como na Amazônia, Maranhão, Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e outras localidades.
Logo os Farroupilhas Rio-grandenses atuaram de 20 de Setembro de 1835 á 10 de Setembro de 1836, (momento que surgem os Farrapos).
Esse movimento teve por objetivo lutar contra os desmandos da corte, a alta aplicação de impostos na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, tornando o charque Gaúcho mais caro que o charque dos concorrentes platinos, o descaso e abandono do povo, e principalmente reivindicar um presidente de província que defendesse os interesses locais. Tivemos Osório que foi Farroupilha mas não Farrapo, tendo iniciado a revolta como Farroupilha ao lado de Bento Gonçalves, mas não aprovando a separação no período Farrapo acabando por lutar pelos imperiais.
Os Farrapos:
No dia 10 de Setembro de 1836 o então Coronel Antônio de Souza Netto bateu as forças imperiais comandadas por Silva Tavares. A vitória foi tão impactante que no dia seguinte culminou na Proclamação da República, tendo como título “República Rio-grandense”.
Finda-se então o período Farroupilha e inicia-se o movimento dos Farrapos. Movimento este que tem caráter separatista, que visa a formação de um estado independente do Império brasileiro, autônomo e “desgarrado” do poder central.
A partir desse momento deixa-se de ser uma revolta por melhorias e toma um teor de luta por defesa de fronteiras e território. Formando uma aliança com Rivera, então presidente da Banda Oriental (Uruguai), os Farrapos conseguem uma forma de escoar seus produtos pelo Rio da Prata, já que os acessos marítimos estavam fechados pelo inimigo.
Os Farrapos tiveram uma constituição, bandeira e hinos próprios, caracterizando uma nação completamente alheia ao domínio brasileiro. Durante quase nove anos sustentaram essa República, com inúmeras batalhas contra os Legalistas brasileiros.
No final de Fevereiro de 1845 é cada vez mais inevitável o fim a guerra, já que os Farrapos não tem mais condições de logística, nem de homens suficientes para manter os combates. No dia 01 de Março de 1845 é finalmente assinado o Tratado de Ponche Verde.
Esse tratado incluía as seguintes cláusulas:
1ª – O indivíduo que for pelos republicanos indicado Presidente da Província, é aprovado pelo Governo Imperial e passará a presidir a Província;
2ª – A dívida nacional é paga pelo governo imperial, devendo apresentar-se ao Barão, a relação dos crédidos para ele entregar à pessoa, ou pessoas para isto nomeadas, a importância a que montar dita dívida;
3ª – Os oficiais Republicanos que por nosso Comandante em Chefe, forem indicados, passarão a pertencer ao Exército do Brasil no mesmo posto, e os que quiserem suas demissões ou não quiserem pertencer ao Exército, não serão obrigados a servir, tanto em Guarda Nacional como em primeira linha;
4ª – São livres, e como tais reconhecidos, todos os cativos que serviram a República;
5ª – As causas civis não tendo nulidades escandalosas, são válidas, bem como todas as licenças, e dispensas Eclesiásticas;
6ª – É garantida a segurança individual e de propriedade, em toda sua plenitude;
7ª – Tendo o Barão de organizar um Corpo de Linha, receberá para ele todos os oficiais republicanos sempre que assim voluntariamente queiram;
8ª – Nossos prisioneiros de guerra serão logo soltos e aqueles que estão fora da Província serão reconduzidos à ela;
9ª – Não são reconhecidos em suas patentes os nossos Generais, porém gozam das imunidades dos demais cidadãos designados;
10ª – O Governo Imperial vai tratar definitivamente da Linha Divisória com o estado Oriental;
11ª – Os soldados da república pelos respectivos comandantes relacionados ficam isentos de recrutamento de primeira linha;
12ª – Oficiais e soldados que pertenceram ao Exército Imperial e se apresentaram ao nosso serviço serão plenamente garantidos como os demais Republicanos.
Muitos afirmam ter sido uma paz honrosa, porém eu não vejo nada de honroso nisso, considerando que quase nenhuma das cláusulas foi respeitada. Alguns dos negros que sobraram foram feitos novamente escravos e enviados para corte do Rio de Janeiro.
Para o presidente da província foi eleito Luis Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias). Muitos dos Farrapos foram perseguidos e mortos. E nesse tratado sequer é discutido a dissolução da República, o que me diz que por direito ela ainda é legal, porém, o Império jamais a reconheceu.
Caxias deu fim a guerra chegando ao fim também o ciclo dos Farrapos, que com muito amor e honra lutaram por um ideal que havia iniciado a quase nove anos lá nos Campos do Seival.
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