O Federalismo como Alternativa ao Império
Por Guilherme Fernandes
As ideias de Aleksander Dugin não são só aplicáveis segundo a realidade da Rússia, são um conjunto de ideias que podem ser defendidas por qualquer povo, cada um complementando a Quarta Teoria Política conforme o seu próprio dasein. Dugin incentiva suas ideias como uma nova alternativa a outras causas que trilham o mesmo caminho anti-liberal e anti-imperialista. Aqui se demonstra como as ideias do professor Dugin, sobre Quarta Teoria Política, multipolaridade e continentalismo são perfeitamente aplicáveis conforme os interesses das nações ibero-americanas, em um projeto de união orgânica, construindo uma unidade multipolar continental e civilizacional como preconizada por José de San Martin, José Artigas e Juan Domingo Perón.
O princípio do federalismo substituindo a questão imperial, é uma atualização das necessidades dos povos na contemporaneidade. Cujo o objetivo principal, é reconciliar o 'um' e o 'múltiplo', sem centralismo nesse 'um' causando uma inevitável supressão do múltiplo. A lei federada geral, é a da autonomia e do respeito pela diversidade.
O império tenta unificar em um nível universal suprimindo a diversidade de culturas e tradições, constituições étnicas e povos. Enquanto a federação é um todo, cujas partes são autônomas em proporções iguais e solidas do que as une. Estas partes são diferenciadas e orgânicas, indo na contramão do império unitário centralista ou do Estado-Nação imperialista.
Por causa disso, o 'império' incorporando a clássica imagem de universalista e supressor de identidades, a questão Imperial como uma "unidade de opostos" é falsa. Antes de se colocar em prática a construção do 'império', se fala muito em "uma organização supranacional" tal que sua "unidade" não tende a destruir ou nivelar a multiplicidade étnica e cultural de um país. Mas na prática, nos deparamos com a triste e inevitável realidade tirânica.
É o princípio federalista, que torna possível juntar a multiplicidade de elementos diversos para um princípio que é, ao mesmo tempo, superior e anterior à sua diferenciação. Uma diferenciação que procede somente da realidade sensível.
Assim, um sentimento independentista e centrado nos princípios do federalismo, não é uma questão apenas de separar por separar. Mas unir os diferentes sem subjuga-los e aboli-los em prol de uma unidade artificial do Império. Na América, temos como exemplo de federalismo autentico a Confederação Argentina como idealzada por José San Martin, mantido por Juan Manoel de Rosas e claro o ideal artiguista.
A ideia de uma pátria federada de povos livres
Nestas terras austrais, um caudilho gaúcho oriental (Banda Oriental, atual República Oriental do Uruguai e o Estado do Rio Grande do Sul anexado pelo Brasil) foi o precursor a clamar no Rio da Prata as ideias do federalismo.
Foi assim que ele disse ao próprio General Paz:
“Tomando os Estados Unidos como modelo, quero a autonomia das províncias, dando a cada estado seu próprio governo, sua constituição, sua bandeira e o direito de eleger seus representantes, seus juízes e seus governadores entre os cidadãos naturais de cada estado”.
E com base nessas ideias, o partido federal oriental foi formado:
O Partido Federal foi um grupo revolucionário que lutou pela implantação do sistema federal na República. O federalismo vem na época da Revolução de Maio e tem como líder máximo a figura de José Gervásio Artigas, fundador da União dos Povos Livres mais conhecida como Liga Federal.
A Liga Federal foi criada no marco das guerras civis entre os partidários do federalismo, agrupados em torno de Artigas, e os partidários do governo centralista unitário sediado em Buenos Aires, mas com simpatizantes nas demais províncias, inclusive a própria Montevidéu, que buscava padronizar o sistema de governo engajado na guerra de independência.
Em 1814, a popularidade de Artigas se espalhou por várias das províncias argentinas, afetadas, como a Banda Oriental, pela política de livre comércio e um único porto, promovido por Buenos Aires, que arruinou os artesãos e camponeses do Interior.
Santa Fé, Entre Rios, Corrientes, Missões e Córdoba juntaram-se aos Orientais, formando a Liga dos Povos Livres. Como Protetor da Liga, Artigas lutou junto com os chefes do litoral contra o centralismo de Buenos Aires.
Isso formou uma espécie de mercado comum regional no qual os produtores locais eram protegidos e a agricultura era promovida por meio da distribuição de terras, animais e sementes, também não pagavam impostos.
A Liga Federal era uma confederação de províncias aliadas dentro das Províncias Unidas do Río da Prata ou Confederação Argentina. Por mais que não fosse uma causa abertamente separatista, a causa de Artigas inspirou até mesmo os farroupilhas rio-grandenses.
A bandeira Rio-Grandense foi criada, com base na bandeira oriental artiguista, sendo a faixa vermelha o sangue dos cidadãos rio-grandenses massacrados pelo império brasileiro, dividindo o verde e o amarelo da bandeira imperial. Deixando claro, que somos uma pátria a parte do Brasil.
Esse ideal artiguista é um exemplo a todas as causas independentistas da atualidade, cabe a nós honrarmos esse legado e lutarmos por uma grande pátria austral, com cada província autônoma e sem passar por cima da soberania umas das outras. Pois cada povo, deve ser os protagonistas da própria história. Sem negarmos a nossa união federada enquanto irmãos livres.
A América Austral ou Pátria Platina, tem muitos espaços federados. Federados porque cada uma das provincias sao bem heterogêneas. Espaços com muitos pavilhões regionais únicos e gloriosos, ricos em história. E um único manto sagrado que os cobre. Com um pai pioneiro da liberdade e do federalismo. Obrigado José G. Artigas, por ter existido. Seu legado está gravado no coração de muitos platinos gaúchos, crioulos, índios, negros e colônos que o honraram. E continuarão a honrá-lo!
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