Moeller e Dostoievski
Moeller van den Bruck foi o primeiro tradutor alemão de
Dostoievski. Deixou-se influenciar profundamente pelos diários de Dostoievski,
tão repletos de severas criticas ao Ocidente. No contexto alemão depois de
1918, Moeller van den Bruck advogava, com argumentos de Dostoievski, por uma
aliança Russo-germânica contra o Oeste.
Como poderiam os respeitáveis cavalheiros alemães, com uma
imensa cultura artística, mostrarem-se a favor de uma aliança com os
bolcheviques? Seus argumentos foram os seguintes: durante toda a tradição
diplomática do século XIX, a Rússia foi considerada o escudo da reação contra
todas as repercussões da Revolução Francesa e contra a mentalidade e os modos
revolucionários. Dostoievski, um antigo revolucionário russo, que mais tarde
admitiu que sua opção revolucionária tinha sido um erro, considerava, mais ou
menos, que a missão da Rússia no mundo era a de apagar na Europa os rastros das
idéias de 1789.
Para Moeller van den Bruck, a Revolução de Outubro de 1917
foi somente uma mudança de roupagens ideológicas: a Rússia continuava sendo, a
despeito do discurso bolchevique, o antídoto à mentalidade liberal do Ocidente.
Derrotada, a Alemanha deveria aliar-se a esta fortaleza anti-revolucionária
para opor-se ao Ocidente que, aos olhos de Moeller van den Bruck, é a
encarnação do liberalismo. O liberalismo, expressa Moeller van den Bruck, é
sempre a enfermidade terminal dos povos. Depois de algumas décadas de
liberalismo, um povo entrará inexoravelmente em uma fase de decadência final.
Em um âmbito limitado à ND [nova direita] francesa, o
redescobrimento do fator “Rússia” e sua valorização positiva desenvolveu-se em
várias etapas. Ao final dos anos 70, Alain de Benoist lê uma tradução não
publicada de uma obra consagrada à personalidade e a obra de um precursor e
fundador da corrente revolucionária-conservadora alemã, Arthur Moeller van den
Bruck. Um professor reputado havia redigido a obra: o alemão Schwierskott. Um
militante desconhecido havia realizado uma tradução deste livro para o
responsável da ND parisiense.
Moeller van den Bruck, como se sabe, havia apostado por uma
aliança Germano-soviética após Versalles para reduzir ao nada os obstáculos
impostos a Alemanha por Clemenceau e Wilson. Extraía seus argumentos do “Diário
de um escritor” de Dostoievski, cuja tradução alemã havia realizado.
Dostoievski, ao analisar o conflito e os resultados da Guerra da Criméia, havia
demonstrado a hostilidade fundamental do Ocidente, orquestrada pela Inglaterra
contra a Rússia, que pretendia conter-la sobre as costas setentrionais do Mar
Negro. O liberalismo, ideologia de países ricos, não era mais do que uma
perigosa subversão para os países que ainda não haviam se desenvolvido, ou que
haviam conhecido uma derrota histórica. Moeller van den Bruck fazia diretamente
um paralelo com a Alemanha de Weimar.
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