Uma visão tradicionalista
Por Edouard Rix
Por que combatemos? Esta é a questão fundamental que todo o
soldado político deve colocar. Por mais contraditório que possa parecer somos
tentados a responder que lutamos pela Tradição e pela Revolução.
A Tradição
Antes de mais não se deve confundir a Tradição com as
tradições, isto é, os usos e costumes.
A Tradição designa o conjunto dos conhecimentos de ordem
superior referentes ao Ser e suas manifestações no mundo, tal como nos foram
legados pelas gerações anteriores. Ela assenta não no que foi uma vez, num
tempo e espaço determinados, mas no que é de sempre. Admite uma variedade de
formas – as tradições –, ao mesmo tempo que permanece una na sua essência. Não
poderíamos confundi-la com a tradição religiosa única porque ela cobre a
totalidade das atividades humanas, políticas, económicas, sociais, etc.
No seguimento de Joseph de Maistre, de Fabre d’Olivet e,
sobretudo, de René Guénon, Julius Evola fala de uma "Tradição primordial" que,
historicamente, permitiria contemplar a origem concreta de um conjunto de
tradições. Tratar-se-ia de uma tradição hiperbórea, vinda do Extremo Norte,
situada no começo do presente ciclo de civilização, em particular das culturas
indo-europeias.
Do ponto de vista de Evola "uma civilização ou uma sociedade
é tradicional quando é regida por princípios que transcendem o que é meramente
humano e individual, quando todas as suas formas vêm do cimo e quando ela está
toda orientada para o alto". A civilização tradicional assenta então em fundamentos
metafísicos. É caracterizada pelo reconhecimento de uma ordem superior a tudo o
que é humano e contingente, pela presença e autoridade de elites que retiram
desse plano transcendente os princípios necessários para assegurar uma
organização social hierarquicamente articulada, abrindo as vias para um
conhecimento superior e conferindo por fim à vida um sentido vertical.
O mundo moderno é quanto a ele o oposto do mundo da Tradição
que se personificou em todas as grandes civilizações do Ocidente e Oriente.
É-lhe próprio o desconhecimento de tudo o que é superior ao homem, uma
dessacralização generalizada, o materialismo, a confusão de castas e raças.
A Revolução
Quanto ao termo Revolução deve ser entendido na sua dupla
acepção. No seu sentido atual, o mais correntemente utilizado, Revolução
significa mudança brusca e radical no governo de um Estado, a Revolução
francesa e a Revolução soviética de 1917 são uma ilustração perfeita.
Não obstante, no seu sentido primeiro, Revolução não
significa subversão e revolta mas o contrário, a saber, regresso a um ponto de
partida e movimento ordenado em torno de um eixo. É assim que, na linguagem
astronómica, a revolução de um astro designa precisamente o movimento que ele
realiza gravitando em torno de um centro, o qual contém a força centrífuga,
impedindo o astro de se perder no espaço infinito.
Ora nós estamos hoje no fim de um ciclo. Com a regressão das
estirpes, a descida progressiva da autoridade de uma a outra das quatro funções
tradicionais, o poder passou dos reis sagrados a uma aristocracia guerreira,
depois aos comerciantes, por fim às massas. É a idade de ferro, o Kali-Yuga
ariano, idade sombra da decadência, caracterizada pelo reino da quantidade, do
número, das massas, e a correria desenfreada à produção, ao lucro, à riqueza
material.
Ser pela Revolução hoje, é pretender o regresso da nossa
civilização europeia a um ponto de partida original, conforme aos valores e aos
princípios da Tradição, o que passa, reivindicando a expressão de Giorgio
Freda, pela "desintegração do sistema" atual, antítese do mundo tradicional ao
qual aspiramos.
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