Francis Fukuyama admitiu: A Unipolaridade entrou em Colapso
Por Alexander Dugin
Francis Fukuyama escreveu recentemente um artigo bastante
objetivo e equilibrado sobre o fim da hegemonia americana.
Fukuyama no início dos anos 90 estava claramente com pressa
para declarar a vitória mundial do liberalismo e o fim da história. Mais tarde,
ele corrigiu sua posição. Em algumas conversas pessoais com ele, fiquei
convencido de que ele compreende muitos processos mundiais de forma bastante
realista e é capaz de admitir erros em suas previsões – uma característica rara
entre os cientistas políticos narcisistas que cometem erros todos os dias e
isso só os torna ainda mais arrogantes.
Portanto, Fukuyama diz o seguinte. A retirada do Afeganistão
não é apenas a causa do colapso da hegemonia americana, mas apenas o ponto
final. Esta hegemonia começou a desintegrar-se há 10 anos, quando ficou claro
que a estratégia americana do início dos anos 2000 no Oriente Médio havia
fracassado e a crise financeira havia minado a confiança na estabilidade da
economia americana.
Mas o mais terrível para os Estados Unidos nos últimos anos
tem sido uma profunda divisão da sociedade em relação à política interna e,
sobretudo, em relação ao Trump. Desta vez, não só a transferência pacífica de
poder dos republicanos para os democratas falhou, mas a polarização dos
apoiadores e opositores de Trump colocou o país à beira de uma guerra civil.
Portanto, segundo Fukuyama, o que é terrível não é a retirada das tropas do
Afeganistão, o que já era hora de fazer, mas a situação em que isso aconteceu
no contexto de processos políticos internos nos Estados Unidos.
Biden, que originalmente não era considerado o presidente
legítimo pelos republicanos, agora parece um completo perdedor e um idiota
indefeso. A isto se somam suas críticas por parte dos neocons, que tinham
grandes esperanças em relação a Biden, e dos aliados britânicos. Hoje, ele é
até percebido por seus apoiadores como um velho sofrendo de demência, que tem
tudo caindo de suas mãos – como afegãos do trem de pouso dos aviões americanos.
Fukuyama afirma que os Estados Unidos não são mais o hegemon
da política mundial. A multipolaridade é um fato consumado.
Entretanto, Fukuyama sugere não exagerar demais. Os Estados
Unidos ainda são a potência mundial mais poderosa. Mas de agora em diante, ela
terá que procurar aliados e contar com outras forças.
Vale a pena prestar atenção ao que Fukuyama aconselha a
administração Biden a fazer em matéria de política externa. Você pode imaginar
o quadro assim: de 1989 a 2008, o mundo unipolar passou por um arco ascendente
a partir do bipolar, e agora começou um declínio da unipolaridade para a
multipolaridade.
E agora os principais opositores do Ocidente não são tanto
os extremistas islâmicos (embora o próprio Fukuyama, na época da ascensão da
unipolaridade, tenha formulado uma tese bastante idiota sobre o islamo-fascismo
como o principal inimigo), mas os novos polos Rússia e China. Na luta contra
eles – ou seja, conosco! – Fukuyama incentiva a concentração. Tudo volta ao
ponto de partida, mas em novas condições e novas proporções.
E, portanto, Fukuyama deixa claro, sem concordar plenamente,
que é necessário voltar ao uso da prática de incitar os radicais islâmicos
contra a Rússia e a China. Portanto, ele não considera o próprio fato de
abandonar o Afeganistão como uma grande tragédia. Isto liberta as mãos de
Washington para voltar a agressão do Talibã banido pela Rússia contra a Rússia
e a China.
É improvável que os pashtuns militantes estejam
verdadeiramente interessados na construção do Estado. Isto não é parte de suas
tarefas históricas. Os pashtuns são um povo de guerreiros. Quase ninguém
conseguiu subjugá-los, exceto por um curto período de tempo. A propósito,
nossos cossacos russos recordam algo assim vagamente: campanhas militares,
ataques, avanços e recuos rápidos, o uso ideal da paisagem para a guerra de
guerrilha – é assim que a vida é para os cossacos russos. A guerra como
vocação. Trabalho pacífico para os outros.
Os pashtuns são cossacos afegãos, multiplicados apenas por
um milhão. E se assim for, que tipo de Estado… O que mais.
É com isso que Fukuyama e, aparentemente, Biden estão
contando. Se conseguirem novamente, como na era de um mundo bipolar, colocar os
radicais islâmicos contra a Rússia e a China, os Estados Unidos terão mais
algum tempo para a existência histórica.
Eles esperam reconstruir durante este tempo, consolidar suas
posições e lamber suas feridas.
A conclusão é simples: o principal para a Rússia é evitar
que isso aconteça. E aqui – já que estamos falando de vida e morte – todos os
meios são válidos. Se Moscou e Pequim desenvolverem uma estratégia eficaz em
relação à nova realidade do Afeganistão e do mundo islâmico como um todo,
podemos não apenas assegurar nossos interesses, mas também tornar irreversível
o colapso da hegemonia ocidental.
É claro que o próprio Fukuyama não escreve sobre isso,
esperando que não lemos cuidadosamente seu texto dirigido aos estrategistas da
Casa Branca. Mas nós o lemos com bastante cuidado. E concordamos com ele: o
Ocidente está se desmoronando. Por isso, vamos empurrar o que está caindo. E o
próprio Fukuyama sugeriu alguns pontos fracos.
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